A
chamada filosofia clássica se caracterizada pela problemática do conhecimento,
que envolve a possibilidade de se conhecer o mundo, o método para se chegar a
esse conhecimento, os instrumentos utilizados nessa busca de conhecimento, que
seriam o sentido e a razão e o objeto do conhecimento com discussões em torno
de qual objeto deve-se focar na busca do conhecimento. A filosofia clássica
caracteriza o contexto em torno do qual Platão desenvolveu sua obra.
Platão nasceu em 427 a.C, em Atenas,
em uma família da aristocracia envolvida com a política e faleceu em 347 a.C.
Platão foi discípulo de Crátilo e posteriormente de Sócrates.
Marcondes (2010) caracteriza a
temática da obra de Platão como sendo uma reflexão em torno dos costumes, dos
valores, das ideias e da decadência de Atenas e afirma, ainda, que essa
temática se deve a busca de Platão pelo entendimento do contexto político que
condenou Sócrates, seu mestre, a morte.
De acordo com Marcondes (2010) a
obra de Platão, composta por questionamentos relacionados à religião, ao
significado da democracia e do ensinar e ao valor da arte, demonstra sua
preocupação com a ciência, a moral e a política. Desse modo, na obra de Platão
o conhecimento assume um papel pedagógico e político.
Para Platão o discurso filosófico
deve ser legítimo e apresentar um caráter universal, devendo ser, para tanto,
crítico e reflexivo. Assim, por meio do diálogo e do uso da razão deve-se
buscar a verdade. Utilizando do método dialético torna-se possível o
questionamento, a análise crítica e a observação das origens de ideias e de
conceitos.
Segundo Marcondes (2010), apesar de
ter sido discípulo de Sócrates, a filosofia de Platão contém uma crítica ao
mestre. Para Sócrates, a filosofia seria um método de análise por meio do qual
o indivíduo teria uma melhor compreensão de si mesmo, de sua experiência e de
sua realidade. Assim, a filosofia enquanto método de reflexão levaria o
indivíduo a um processo de transformação intelectual e de revisão e reavaliação
de suas crenças e valores. Para Platão, a filosofia é a capacidade de conhecer
a verdade, observando a natureza das coisas em seu sentido eterno e imutável
por meio de um processo de abstração das experiências concretas. Assim, para
Platão, a filosofia é essencialmente teoria.
Platão considera uma relação entre
teoria e prática e, nesse sentindo, argumenta que toda ação humana está
relacionada com uma escolha feita pelo indivíduo. Nesse processo de escolha, o
indivíduo apresenta uma decisão, feita por meio da consideração de determinados
critérios. A consideração dos critérios para a decisão envolve o papel da
teoria no processo, uma vez que os critérios são formados a partir de
definições, de princípios, do conhecimento, que por sua vez se forma a partir
do raciocínio teórico. A escolha das decisões não deve ser feita baseada no
concreto ou em experiência particular e sim por meio de princípios e valores
gerais. Desse modo, as decisões não devem ser casuísticas e sim universais.
Assim, uma ação é legítima quando antes de sua prática houve um raciocínio
teórico, sendo a decisão baseada em princípios gerais, em normas. Surge, então,
a ideia de racionalidade.
Platão desenvolve uma teoria em relação
à existência das formas em torno da qual apresenta a hipótese inatista e a
doutrina da reminiscência ou anamnese. A hipótese inatista seria a devesa de
que o indivíduo apresenta um conhecimento inato presente em sua alma desde o
nascimento. Por meio da maiêutica socrática, que seria uma espécie de
acompanhamento e guia do raciocínio do outro, a fim de despertar no indivíduo
um conhecimento já presente, torna-se possível o entendimento de novas
questões. A reminiscência ou anamnese, por sua vez, seria a possibilidade do
indivíduo entrar em contanto com esse conhecimento prévio.
A obra de Platão revela, ainda, a
tradição mitológica grega, que permanece enquanto recurso de linguagem e de
estilo por meio do qual se pode falar sobre determinados temas de modo
sugestivo, fazendo uso de imagens e de símbolos.
O
Mito da Caverna, presente no livro VII de A República, apresenta o modo como
indivíduos, prisioneiros de uma caverna desde o nascimento, formam seus
conceitos e ideias sobre o mundo tendo contato apenas com as sombras dos
objetos que passam atrás deles.
Marcondes
(2010) apresenta uma reflexão sobre O mito da Caverna, famoso entre as obras de
Platão. Nessa análise, a caverna representa o mundo em que vivemos e os
prisioneiros são, portanto, nós, homens comuns, sendo prisioneiros de hábitos e
de preconceitos. As sombras de fato existem, porém apresentam apenas um aspecto
dos objetos que circulam atrás dos prisioneiros. Os homens que carregam os
objetos de onde se originam as sombras representam os manipuladores dos
pensamentos dos sujeitos comuns. Os homens seriam, portanto, os sofistas e os
políticos atenienses. A necessidade que o ex-prisioneiro da caverna apresenta
ao entrar em contato com novas ideias e conhecimentos, demonstra a importância
que Platão atribui a adaptação. O momento em que o indivíduo pode olhar para o
sol representa o olhar desse indivíduo para a realidade. A volta do prisioneiro
a caverna, mostra a preocupação desse indivíduo em dividir o conhecimento que
adquiriu e passar para os seus companheiros a existência de uma realidade mais
complexa.
Referências
Marcondes, D. (2010). Iniciação á
História da Filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein (3a ed.). Rio de
Janeiro: Jorge Zahar.
Oliveira, C. M.
B. de & Trotta, W. (2007). A dimensão
política segundo Platão e a crítica de Aristóteles. Rio de Janeiro: UNESA.
Recuperado em 15 de fevereiro de 2012, de http://www.achegas.net/numero/32/clara_e_trotta_32.pdf